Gêmeos devem compartilhar tudo?

Todo nascimento envolve uma nova geração dando continuidade na transgeracionalidade, no caso de nascimento de gêmeos, há um toque a mais de fascinação com os irmãos por conta das semelhanças físicas, sendo idênticos ou não, como são mais raros são muito admirados.

Para a família que estará convivendo com os irmãos gêmeos, entrará uma nova rotina de adaptação dessa maternidade e paternidade, que precisará lidar com essa dualidade a vida toda, que já iniciou na vida intrauterina, e terá toda uma trajetória até a vida adulta.

Há muitas dúvidas em relação à forma de educar os filhos, qual a maneira mais saudável, como os gêmeos devem compartilhar tudo? As justificativas para partilhar de tudo são muitas, é mais fácil é mais barato, porém do ponto de vista psíquico, faz-se necessários alguns apontamentos emocionais importantes.

Algumas atitudes na educação dos gêmeos podem reforçar a falta de identidade própria para a vida adulta.

Lembrando que existe um caminho que uma criança percorre para essa construção de identidade. Nos primeiros seis meses, será o período de dependência absoluta, vista como relação simbiótica, nesta díade mãe e filho se unem e se completam, porém ela deve existir somente neste momento, e a mãe ir estimulando o bebê rumo á independência.

Os vínculos, formados durante as primeiras fases do desenvolvimento, durante a construção da subjetividade da criança funciona como um período de molde, pois suas futuras relações estabelecidas com o meio social estarão marcadas por essas vivências.

Não existe receita para a educação dos filhos, e sim propostas de diálogos que sugerem atitudes mais saudáveis dos pais, para que os filhos lidem de forma menos negativa nesta dupla de irmãos. Como as crianças sempre querem ser vistas, amadas e reconhecidas pelos pais, vesti-los iguais, por exemplo, durante toda a infância pode sim contribuir para a rivalidade e falta da própria construção de identidade.

A segurança e o amor próprio são construções que vem muito de uma educação familiar que possam lidar com as diferenças e as individualidades.

Em um passado recente era comum os pais vestirem seus filhos iguais, na vida pós-contemporânea, a mídia vem contribuindo novamente para o estímulo de uma moda igual entre mães e filhas, o que reforça essa fusão. Alguns pontos são importantes serem vistos, na hora de vestir os dois sempre com roupas iguais, seria mais saudável que as cores fossem diferentes, e aos poucos as crianças poderem ser respeitas nas suas diferenças, fazendo suas próprias escolhas.

Em relação aos brinquedos quando se presenteia com brinquedos iguais para evitar as brigas, também pode ser uma boa intenção, na ambivalência seria uma oportunidade para lidar com ciúmes, gostos individuais.

Tratar os filhos da mesma maneira sem diferenciação, pode ser um estímulo para a dependência emocional maior, há relatos de pacientes no “setting terapêutico” que nunca tiveram um aniversário sem o irmão (a), e pequenos detalhes de como um escolher o sabor do bolo, pode se cristalizar nesta dupla até a vida adulta.

Os pais devem tentar revezar colo e cuidados sem priorizar somente um com o pai sempre e vice-versa, para não criar uma aproximação maior somente com um deles, em tudo na rotina pode se criar por exemplo escolhas diante de brincadeiras lúdicas como: par ou ímpar; pedra, papel, tesoura.

Outra dúvida é a entrada na vida escolar, eles poderão se sentir seguros, sendo colocados na mesma classe nos primeiros anos, isso pode ser revisto ao longo da trajetória escolar.

Cada família precisa criar sua maneira e respeitar a individualidade dos irmãos, cada dupla também terá as suas representações familiares, os pais precisam acima de tudo criar sintonia entre si para que se crie um único procedimento entre os dois.

Vale ressaltar que o brincar faz função terapêutica, para Winnicott (1975) o brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento da criança, pois oferece a ela um “espaço potencial” onde possa, no seu ritmo, entrar em contato com a separação da mãe, elaborar as angústias, ao mesmo tempo em que através do brincar a criança vai criar seu modo singular de se relacionar com a realidade externa.

Hoje os filhos estão sendo chamados de “filhos do quarto”, os pais estão com dificuldade de lidar com alguns aspectos da educação, vale ressaltar a importância de dar limites, porém é possível resgatar o lúdico, como incluir noites de jogos, mais presença física, elogios em boas condutas dos filhos e reconhecimento por suas conquistas, proporciona crescimento e amadurecimento emocional.

Para Winnicott, uma mãe precisa “ser suficientemente boa”, e contribuirá para a construção de um aparelho psíquico da criança, indivíduo sadio precisa ter desenvolvido sua capacidade de criatividade, será ela a saída para a saúde mental.